Caro André Bahia,
Mesmo no centro do campo, uma ocular, por exemplo Plossl (e por maioria de razão uma Kelner, ou Ramsden ou Huyghens) não dá boas imagens com primário de relação focal 5 ou inferior. Pior ainda se for f/4 ou f/3,5.
A razão para isso é a obliquidade mais acentuada dos raios luminosos que concorrem para formar a imagem de cada "ponto" (por exemplo de uma estrela) no centro do campo, se a relação focal do primário for curta. Como informação, ao chegar ao foco, o ângulo entre o eixo óptico principal e os raios luminosos que passaram na periferia da objectiva, é:
8,1º para f/3,5
7,1º, para f/4
4,1º para f/7
2,6º para f/11
1,9º para f/15
1,4º para f/20
0,95º para f/30
O ângulo de abertura do feixe luminoso que chega à ocular (entre raios marginais que passaram por pontos diametralmente opostos da objectiva) é o dobro do acima referido.
Portanto, para relações focais muito curtas, as oculares têm de ser melhores. Em objectivas de relação focal longa, oculares simples dão resultados bons junto ao eixo, mas não muito fora dele. Uma Plossl de boa construção, dá muito bons resultados num telescópio f/9 e excelentes num f/15.
OK, mas nós vemos telescópios f/5 e até mesmo f/4 trazendo de origem oculares de Plossl. Que defeito se nota? Nota-se que as imagens estelares não são tão pontuais como deviam ser e que as imagens extensas não apresentam o contraste esperado. O "limite de aceitabilidade" depende da exigência de cada um. Para algumas pessoas a diferença será aceitável ainda. Uma ocular bem corrigida dá bons resultados mesmo em f/4.
Para mais informação veja "Telescope Optics" de Rutten & Venrroij:
http://www.willbell.com/tm/tm6.htm
Outra questão diferente desta é o facto de que, por um preço modesto, é mais fácil obter um primário (ou até uma objectiva de refractor) de boa qualidade em relação focal longa do que em relação focal curta.
A razão para isto é clara: relações focais curtas exigem curvaturas mais acentuadas (menor raio de curvatura) e produzir adequadamente superficies ópticas de raio de curvatura menor exige mais cuidados e controlos do que nas superfícies de raio maior. Acontece ainda que a centragem e o ajuste dos componentes ópticos são mais exigentes e com tolerãncias mais estreitas no caso das superfícies de menor raio de curvatura.
Abraço
Guilherme de Almeida