Em imponderabilidade (ausência aparente de peso, como sucede em órbita), os objectos continuam a ter massa. E ter massa é ter inércia. Por exemplo, se um astronauta estiver em volta do Telescópio Espacial Hubble (HST) a fazer uma reparação, e se lhe der na cabeça para empurrar violentamente o HST, o HST quase não ganha velocidade, mas o astronauta sai disparado em sentido oposto.
Não haver peso não significa que se possa empurrar um elefante com a facilidade com que se empurra uma caneta! Lembra-se do exemplo que lhe dei antes, do homem em patins e do carrinho de supermercado?. É semelhante, mas a desproporção de massas é ainda maior. Não sei a massa do HST, mas admitamos que era 8000 kg. Se o homem (de 80 kg) começasse a recuar com a velocidade de 1 m/s, o HST iria em sentido oposto à velocidade de 0,01 m/s =1 cm/s. E haveria muito pequenas alterações orbitais do HST, mas o homem, se não tivesse a mochila de navegação (de que já falei) iria perder-se para sempre....
Note que a imponderabilidade em órbita não significa estar fora do campo gravitacional terrestre. Existe o mito de se considerar que "fora da atmosfera da Terra = livre da gravidade terrestre", o que não é verdade. Por exemplo, um objecto de massa 1,0 kg, na superfície da Terra tem o peso de aproximadamente 9,8 N (note que N é o símbolo do newton, unidade SI de força); caso o mesmo objecto esteja a uma altitude igual à medida do raio terrestre (aprox 6400 km) pesará um quarto do que pesa na Terra, ou seja 9,8/4=2,45 N. E a uma altitude de 3 raios terrestres (19 200 km) pesará 1/16 do que pesa à superfície da Terra, ou seja, 0,61 N (*). Ora, as órbitas dos satélites estão normalmente entre 180 km e 1000 km de altitude, "quase a roçar" a superfície terrestre. A nave, em órbita, não cai porque a força centrípeta necessária ao encurvamento da sua trajectória é desempenhada pela força gravítica que a Terra exerce na nave. Não é, de forma alguma, por estar fora do alcance da gravidade da Terra.
Pelas razões acima citadas, a nave, saindo "fora da atmosfera" não está livre da força gravitacional exercida pela Terra.A resultante das forças que sobre ela actuam não é nula (e essa — resultante nula — seria a condição para o seu movimento ser uniforme e rectilíneo)
Em órbita, a nave e um astronauta lá dentro têm igual aceleração, em relação à Terra e, portanto, se o astronauta largar uma caneta, sem a empurrar, vai vê-la a flutuar à sua frente, mas a nave, o homem e caneta estão sujeitos à gravidade terrestre, só que todos com igual aceleração; por isso, o homem e a caneta estão em repouso relativamente à nave.
A relação entre força aplicada (F), massa onde se aplica a força (m) e a aceleração (a) conseguida durante a aplicação dessa força continuam a estar de acordo com a 2.ª lei de Newton (F=ma).
Quanto à questão "que força se aplica para lhe dar movimento" , tem a ver com a velocidade desejada e com o tempo que se pretende para atingir essa velocidade. Mais tempo, menor força; menos tempo força de maior intensidade.
Faço notar que não é prático dar longas respostas no AQ&A. Creio já ter respondido à sua questão.
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(*) Mesmo à muito maior distância a que a Lua está da Terra (384 400 km, em média) um corpo de 1 kg de massa está sujeito a uma força gravítica, exercida pela Terra, de intensidade
9,8/3600= 0,0027 N,
O valor "3600" deve-se a facto de a distância média da Terra à Lua ser aprox. 60 raios terrestres, aliada ao facto de a força gravitacional ser inversamente proporcional ao quadrado da distância. Ora, 60^2=3600.
GA