PARTE II (continuação do comentário acima acima):
4. O Planisfério Celeste GA face a aplicações informáticas para tablets e smartphones
Penso que se desconhece (por enquanto) o potencial imenso do planisfério celeste GA e que as pessoas mudarão de ideias quando o utilizarem: irão perceber melhor certas particularidades do céu, que no uso informático passam despercebidas. A algumas pessoas avançam com a ideia precipitada da prioridade das aplicações informáticas (que são "muito melhores", dizem elas), como se tais aplicações fizessem tudo e tudo substituíssem, pondo fora de jogo todo o resto.
O gozo de mover o céu com os próprios dedos é insubstituível! É claro que posso utilizar o "Skyglobe", "Celestia", "Epoch 2000.0", "Megastar", "The Sky", "Distant Suns", "EZ Cosmos", "Stellarium", "Sky Map"… É precipitado supor que o autor nunca usou tais programas. Tudo isso tem o seu lugar, mas é menos directo, como explicarei adiante, e exige um computador, um portátil ou um tablet e baterias.
Na verdade, o valor formativo de um planisfério supera largamente o de uma aplicação informática. E a aprendizagem do funcionamento do céu é muito mais clara com um planisfério celeste. Na verdade, o planisfério celeste GA verão é de uso muito transparente ao utilizador. Ou seja, os programas de planetário criam um efeito de caixa negra, que se interpõe entre o utilizador e o céu, embotando sensações, contactos e percepções. Num planisfério, movido pelos nossos dedos, sente-se o que está a acontecer...Pode-se ver o que aconteceu meses, horas ou minutos atrás ou o que vai acontecer adiante. E pode ver-se todo o céu ao mesmo tempo, em toda a volta do horizonte, possibilidades vedada às aplicações para Tablets e Smartphones.
A percepção dos factos e o valor formativo das sensações que nos despertam, são quase sempre insubstituíveis. Podemos criar um "software de pequeno carpinteiro" em que, com o rato, se maneja um martelinho no ecrã, mas isso não é o mesmo que pegar num martelo de verdade, sentir o seu peso, a inércia no seu manejo, as vibrações que as pancadas do martelo imprimem ao cabo e nos fazem vibrar a mão…
Nas aplicações para telemóveis e tablets metem-se números, datas e horas numa caixa "mágica" e… aparece o ecrã prontinho, mas nem se percebeu como, pois tudo se passa nas entranhas do computador, mas não se sente nas mãos. Além disso, incitam à preguiça. Estas aplicações geralmente só mostram o céu de "agora", e qualquer alteração na data-hora (quando é possível..) obriga a muitas manipulações, coisa que no planisfério celeste GA é imediata e está sempre à vista! A compreensão do mecanismo aparente do céu é muito mais perceptível quando se mexe num planisfério celeste. E especialmente neste que tem as escalas (muitos outros não têm tantas escalas) necessárias para se poder fazer tudo o que este faz e outros não fazem...
Um planisfério celeste é um computador analógico que faz autênticas maravilhas: numa base aparentemente simples, muita coisa pode ser feita. Aprende-se imenso. A interacção directa e intuitiva, dá uma sensação única, não reprodutível num ecrã. Afinal, o planisfério celeste é uma imitação do céu aparente.
Compreende-se muito melhor o que está a acontecer com o céu rodando o planisfério do que carregando em botões! Veja-se que, os pares equivalentes data-hora (a mesma hora sideral, no fundo), por exemplo, 20 de Novembro às 23:00 é equivalente a 27 de Novembro às 22:30, ou a 20 de Dezembro às 21:00, ou ainda a 20 de Janeiro às 19:00, etc., não são perceptíveis de forma sensorial num programa, mas saltam à vista num planisfério celeste.
Se se perguntar a um miúdo de 13 anos, habituado a programas informáticos, do tipo planetário, qual é a data-hora de Agosto equivalente a 15 de Outubro às 01::00 (a mesma hora sideral), ele fica espantado a olhar para nós. Perguntando o mesmo a um miúdo habituado a mexer em planisférios celestes ele dirá logo que é 15 de Outubro às 5:00. Aliás, no meu planisfério, todos esses pares equivalentes estão imediatamente à vista. O mesmo se pode dizer das previsões futuras ou passadas: são mais rápidas no planisfério.
Mas há muito mais. Quanto tempo antes do Sol é que nasce Sírio em 8 de Setembro? Quantas horas está Prócion acima do horizonte, desde que nasce até se pôr? E a 30 de Abril, Aldebarã nasce antes ou depois do Sol? Quantos minutos antes? Quantos minutos depois? E ainda os pares nascimento-ocaso (por exemplo Betelgeuse-Antares), saltam logo à vista, ou ainda os nascimentos simultâneos. Só experimentando é que cada um verá por si próprio. Estas são algumas outras formas de uso que o leitor aprende a idealizar depois de praticar as funções exemplificadas no livro. É claro que o Planisfério celeste GA permite fazer tudo isso porque tem as escalas e as marcações necessárias para isso.
Não estou obviamente a dizer que o astrofotógrafo, de observatório ou ambulante, deite fora os seus materiais de software para se governar com o planisfério celeste... Mas pode dar-lhe jeito para muitas coisas. Muito mais do que parece. Por exemplo, ao jantar, sem ter ligar nenhum computador, ver para que horas deverá regular o despertador, de modo a ter M57 já a 48º de altura…
Com mais de 40 anos de observação do céu, pego no meu planisfério com gosto e vejo coisas que, podendo ser feitas de outra maneira, não dariam o mesmo gozo.
5. Particularidades da produção do livro e do planisfério celeste multifuncional
Na verdade o planisfério deu mais trabalho do que o livro, a optimização dos resultados foi uma tarefa enorme, que poucos estariam dispostos a aguentar. E mesmo a que a produção do planisfério foi muito mais complexa do que a do livro. As figuras e esquemas do livro são todos do autor, desenhados, trabalhados e com arte final do autor, combinando Sky Map, Photoshop e Word, excepto as cinco fotografias de Miguel Claro, lá indicadas como tal. O planisfério celeste foi feito segundo protótipo do autor, e sob constante correcção e supervisão durante todas as fases da produção. Foi produzido em Adobe Illustrator, um programa avançadíssimo e muito complicado, mas que a desenhadora da Editora, com aconselhamento e supervisão constantes do autor, com emendas sobre emendas, levou a bom termo.
Acaba aqui a parte II (continua na parte III, mais abaixo).
Guilherme de Almeida