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em Astrobiologia por AstroNovato (790 pontos)
A detecção de exoplanetas cresce de ano para ano e o seu número conta-se já por milhares. Nesta busca estão envolvidos telescópios terrestres e telescópios orbitais, que podem estar ou não em dedicação exclusiva.

Claro que este é um investimento elevadíssimo (só o projecto da sonda Kepler terá custado 500 milhões de euros), e se a isto somarmos a manutenção de todos os outros equipamentos e o encargo com as centenas de cientistas e colaboradores envolvidos nos diversos projectos um pouco por todo o mundo, um programa destes a correr ao longo de anos atinge um valor... astronómico.

Tal como no CERN, é a legítima sede de conhecimento do ser humano que nos faz gastar biliões.

Evidentemente há ganhos com o desenvolvimento das tecnologias envolvidas (óptica, química, materiais, electrónica, biologia ou informática), porque todas beneficiam com os melhoramentos decorrentes da necessidade crescente de optimizar processos.

Se num futuro próximo e com o aperfeiçoamento crescente dos instrumentos viermos a detectar meia dúzia de planetas orbitando estrelas 'próximas' (digamos até 10 ou 20 AL) que se encaixem não só no lote de habitáveis, mas que reúnam condições que consideramos óptimas para que tenha surgido vida (planetas rochosos com água líquida, amplitude térmica favorável, luz, dimensão, gravidade, atmosfera e todos os outros etcéteras), fazemos o quê de seguida?

Quero eu dizer: para além de ser legítimo suspeitar que num deles ou em vários deles, para além de haver condições, pode mesmo haver vida (com todas as implicações de ordem filosófica, religiosa e biológica que isso representa), vamos concretamente fazer o quê?

Alguém já sugeriu qual deverá ser o passo seguinte?
por AstroNovato (790 pontos)

Ainda não há respostas a esta minha pergunta, provavelmente porque a compliquei desnecessariamente; permitam-me pois que a reformule.

Se (ou quando), depois de décadas de trabalho de muita gente e de um esforço financeiro gigantesco, viermos a focar a nossa atenção num qualquer planeta 'gémeo' da Terra (com todas as condições que achamos serem as ideais e tal), será sem dúvida fascinante e óptimo para discussões filosóficas e científicas, mas é também um ponto crucial: basta existirem condições para que tenha surgido vida? E vamos ficar por aí, claro.

Ainda ontem investigadores da USP anunciaram a detecção de mais dois exoplanetas, mas a ideia que os media acabam por passar nas entrelinhas para o grande público (porque é isso que vende), é que por detrás da procura de planetas exteriores está a procura por vida fora da nossa Terra. É essa a reacção que vejo nos leitores ou espectadores, sempre que surge uma notícia deste tipo.

Não sei, mas gostava de ouvir o que os mentores ou apoiantes deste tipo de projecto pensam sobre o day after, porque na verdade nunca vi nada sobre isso.

(Estou voluntariamente a manter esta questão à margem de outro tipo de pesquisa - que procura especificamente por vida inteligente - e que consiste em vasculhar o céu com radiotelescópios e também com telescópios ópticos, à espera de algum 'olá!').

1 Resposta

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por Super-Nova (15.3k pontos)
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Naturalmente o que mais atrai a imaginação das pessoas (a minha incluída) é uma vez descobertos planetas semelhantes a Terra, irmos lá e talvez por lá ficarmos. Claro que, de momento, tal coisa não é possível mesmo que  tenhamos a certeza absoluta de encontrar um planeta propicio porque pura e simplesmente ainda não temos meios de la chegar.

Mas desde ja esse senão aponta para um possível caminho a seguir: desenvolver tecnologias para la chegar: talvez a criação de "naves geracionais", onde as pessoas vivem, formam familia e morrem ao longo dos longos anos que demoraria a chegar lá, de modo a que os seus descendentes fossem os que eventualmente poriam os pés no planeta, daqui a centenas ou milhares de anos. Ou talvez criar "naves adormecidas" onde os tripulantes seriam postos em sono criogénico, o seu metabolismo suficientemente baixo para dormirem a viagem toda e praticamente chegar la sem envelhecer. Ja existem algumas ideias, como ve.

Mas mesmo sem sair daqui deste ponto azul na berma do oceano cósmico, haveria outras vantagens. A que mais salta a vista seria o estudo de como esses planetas evoluíram de forma a chegar ao estado proximo da Terra. Como se formou o seu sistema solar? Que tipo de estrela orbita? Ou talvez nos virássemos para a biologia e tentássemos estudar os "marcadores biológicos", moléculas que estão presentes no planeta e que são resultado da actividade de formas de vida e que conseguiríamos detectar pelos espectros com os nossos instrumentos. E se juntássemos todas estas coisas com a ideia de la ir, mesmo, então teríamos a oportunidade de ver que tipo de vida havia, se seria muito diferente do que estamos habituados (provavelmente seria) e que acontecimentos foram responsáveis por essa diferença.

Resumindo, o day after da descoberta de um planeta semelhante a Terra, seria a tentativa de perceber como é que esse planeta chegou ao ponto de ser parecido com a Terra. As informações ganhas com estes estudos permitiriam depois ajudar a responder a mais velha pergunta de todas, a que toda a gente se pergunta desde que o primeiro humano tomou consciência de si próprio, e que, em minha opinião é a pergunta que toda a ciência tenta de uma forma ou outra responder: "Como é que chegamos aqui?"

Peço desculpa se me tornei demasiado poético para o fim :-)

por AstroNovato (790 pontos)

Gostei de ler; estamos de acordo.

Este é de facto um programa com custos elevadíssimos e de longo prazo que nos permitirá melhorar algumas teorias, tentar perceber mais sobre as nossas origens, compreender alguns processos formativos e evolutivos e eventualmente estabelecer estatisticamente que por cada 'X' quantidade de estrelas, existirão em média ''Y' planetas onde a vida (pelo menos segundo o nosso conceito de vida) poderá existir.

Mas este é também o programa que, em definitivo, nunca nos dirá se existe vida para além da que conhecemos por cá; será sim possível (caso exista) confirmá-la num qualquer cometa ou asteróide a que consigamos deitar a mão.

Quanto à detecção de vida inteligente, claro que é assunto completamente descartado.

Ora é precisamente aqui que os media que chegam ao comum dos mortais (jornais e revistas generalistas, noticiários de TV, etc), aproveitam para confundir a audiência. Estou a falar de algo a que já assisti inúmeras vezes! Voluntariamente ou por ignorância, o que este tipo de notícias deixa a pairar no ar, é que associada à descoberta de novos planetas há a expectativa de que um ou mais sejam 'semelhantes' à Terra, insinuando nas entrelinhas que poderemos estar então em vias de descobrir vida extraterrestre!

Ora nós sabemos que existe uma indústria (filmes, séries, congressos, lojas de souvenirs marcianos, livros e revistas) que explora as mentes mais crédulas sobre a existência de homenzinhos-de-olhos-esbugalhados que andam por aí.

É lamentável que nunca veja (pelo menos não me recordo de alguma vez ter visto) nas notícias de descoberta de exoplanetas, um comentário, uma nota prudente, explicando que não é por esta via que chegaremos à detecção de vida extraterrestre. Possivelmente as pessoas de ciência não têm acesso, não revêem os textos, nem são convidadas a esclarecer o grande público, porque simplesmente o que interessa aos media é vender ilusões.

Só coloquei a pergunta e depois insisti, porque queria ouvir de quem tem formação científica, a confirmação de que, no que respeita à confirmação sobre eventual vida extraterrestre, este é um programa que nos vai deixar exactamente com a dúvida de sempre.

Obrigado.

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