Em vez de "Idade Cristã, utiliza-se a designação "Era Cristã".
A ideia de considerar a data do nascimento de Cristo como uma referência cronológica deve-se ao monge Dionísio, o Pequeno (???–540), que a propôs no ano 532 e foi prontamente adoptada pelas autoridades eclesiásticas. Os cronologistas da Igreja concordam actualmente que o nascimento de Cristo ocorreu antes da data determinada por Dionísio. Do ponto de vista cronológico, esta data (origem da era cristã) acabou por ser fixada por mera convenção.
Dionísio, o Pequeno (???-540), na altura de propor o nascimento de Cristo como referência, atribuiu uma certa data ao nascimento de Cristo. O ano seguinte ao nascimento de Cristo marca o ano 1 da era cristã. E assim sucessivamente.
Porém, o monge Dionísio enganou-se. Mas a contagem da era cristã faz-se desde o nascimento de Cristo (segundo Dionísio). Mais tarde, deu-se conta do erro. Mas a era estava já firmada e já haviam passado muitos anos. Por isso, segundo as melhores opiniões, Cristo nasceu no ano 4 a.C.. ou seja, no ano -3.
Pode parecer um contra-senso afirmar que Cristo nasceu no ano 4 a.C. Aparentemente, "Como poderia Jesus nascer 4 anos antes do seu nascimento?" Porém, uma coisa é o ano de nascimento de Cristo, determinado com o rigor que a investigação histórica permite, baseando-se até em fenómenos astronómicos tomados para referência; outra coisa diferente é o ano convencional, estabelecido por Dionísio, para o nascimento e Cristo. É este último que serve de referência para o início da era Cristã.
Porém, se o ano de nascimento de Cristo é incerto e ainda envolto em polémica, muito mais desconhecido é o mês de tal nascimento. A data de 25 de Dezembro foi escolhida arbitrariamente na época de Constantino (imperador romano entre 306 e 337 d.C.) — portanto ainda antes do monge Dionísio — aproveitando-se a comemoração do solstício de Inverno, feita tradicionalmente dias depois da ocorrência de tal solstício. Uma mera data de conveniência.
Se Cristo nasceu por volta do ano 4 a.C. (ano -3 na contagem astronómica) e se foi crucificado aos 33 anos, então a crucificação teria ocorrido no ano 29 d.C. (ou ano 29 AD, sendo "A.D." a abreviatura de Anno Domini ou ano do Senhor). Mas não nos fiemos por enquanto nesta determinação. Na verdade, não se pode esperar rigor absoluto em cronologias antigas, em que o registo dos acontecimentos se fazia de forma pouco rigorosa. Veja-se:
Na verdade, os supostos 33 anos de Cristo, à data da crucificação, não são uma garantia de rigor. Estima-se que Cristo (Cristo histórico) morreu com 36 ou 37 anos, e assim sendo, a sua morte, na crucificação, teria ocorrido no ano 32 A.D. ou 33 A.D.
NOTA informativa:
[Excerto de um antigo artigo (de 1995) de Guilherme de Almeida] *
Para datar os acontecimentos ocorridos no passado distante, os historiadores utilizam a era cristã estendendo o calendário juliano, para o passado. Assim, o ano anterior ao ano 1 é o ano 1 a.C., etc. Esse ano foi bissexto (tal como os anos 5 a.C, 9 a.C.,etc) e não é possível aplicar, utilizando este critério de datação, a tradicional regra da divisão por 4 aos anos antes de Cristo (os números 1, 5, 9, não são divisíveis por quatro).
Para os astrónomos, a contagem dos anos anteriores à era cristã é feita por um processo diferente. Considera-se ano 0 (zero) aquele que precedeu o ano 1, contando-se negativamente os seguintes. Deste modo, por exemplo, o ano 5 a.C. dos historiadores corresponde, para os astrónomos, ao ano -4, e assim sucessivamente. Segundo este critério, adoptado desde os tempos do astrónomo Cassini (1770), continua a ser possível aplicar o critério da divisibilidade por 4 para a determinação dos anos bissextos, tanto antes como depois da era cristã.
O ano 0 terminou no "instante" do nascimento de Cristo, tendo-se iniciado um ano antes. Embora pareça estranho, este critério é mais racional e contribui para evitar erros nos cálculos. Por exemplo, se nos perguntarem quantos anos decorreram entre 30 de Junho de 5 a.C e 30 de Junho de 3 d.C., responderemos prontamente: oito. Errámos! Foram apenas sete anos, como se verifica fazendo um esquema que ajude a pensar melhor.
Também é preciso ser cauteloso ao numerar os séculos. Sendo um século um período de cem anos, o século I contém os anos 1 a 100, inclusive; do mesmo modo o século XX contém os anos 1901 a 2000. O século XXI começará [começou] logo após meia-noite de 31 de Dezembro de 2000, e não antes.
(*) Referência do artigo acima citado:
ALMEIDA, GUILHERME DE. (1995) — "A Astronomia e o Tempo". Publicado na revista Vértice (bimestral), número 66 (Maio/Junho), II Série, secção "Em Questão", págs.10 a 17.